sexta-feira, novembro 25

"Trabalhar em Portugal como guionista tornou-se uma impossibilidade"

Nuno Soler não teve medo de arriscar. Com uma enorme paixão pela escrita e pela 7ª Arte, este jovem português decidiu agarrar o seu sonho e investir na sua vocação. Saiu de Portugal e foi estudar para a Vancouver Film School. Os resultados? Uma curta-metragem que escreveu, "Growing Up Julianne", foi a vencedora da categoria de "Best Fantasy" no International Student Film Festival Hollywood.


O que te fez sair daqui para estudar e trabalhar como guionista?

Terminada a licenciatura de Cinema e Comunicação Multimédia trabalhei em vários projectos durante dois anos, projectos esses que não me ajudaram a desenvolver as minhas capacidades como guionista, que rapidamente me mostravam a impossibilidade de seguir o meu sonho e que diariamente me frustravam pela falta de know-how e profissionalismo que uma pessoa espera em qualquer indústria onde pretende construir uma carreira.
Para mim, trabalhar em Portugal como guionista tornou-se uma impossibilidade. A falta de produtos de qualidade que te possam dar alento e objectivos são nulos e a falta de oportunidades - amo o cinema mas como escritor é sempre um alivio quando podes passar de uma longa-metragem para um livro de banda desenhada ou de uma curta-metragem para um jogo de vídeo - e a falta de apoio pelos profissionais já estabelecidos no mercado, onde a inveja e o ego reinam, tornaram a minha decisão fácil de tomar.
Esta foi a minha experiência durante dois anos, ao ver que Portugal em termos de entretenimento multimédia é um mini-mercado. E eu não queria desperdiçar o meu sonho num mini-mercado.

Quais foram as vantagens de sair?

Todas. Não só cresci como escritor e como profissional, mas também a um nível pessoal onde todos os dias enfrentas um desafio novo, e mais dias que menos, vences sempre esse desafio. A um nível pessoal, uma pessoa cresce como ser humano a partir do momento que quebra com o mundo onde esteve dependente toda a sua vida, onde comunica com pessoas de diferentes culturas diariamente, procurando satisfazer todas as necessidades destas sem comprometer as suas. Nunca há um momento aborrecido pois divertes-te enquanto trabalhas.

O que sentias que fazia falta em Portugal?

O que faz falta em Portugal é visão. É humildade para aprender como contar uma história que seja universal nos seus temas e única na sua narrativa. É pensar que os espectadores são pobres de espírito e não trabalhar em narrativas interessantes ou criar histórias para um nicho intelectual que não tem peso algum no mercado. Não existe meio termo ou variedade em Portugal para que a indústria cinematográfica e os seus profissionais cresçam.

Como é que a tua vida mudou?

Tenho mais oportunidades de trabalho, mais pessoas com vontade de criar produtos únicos para uma maior audiência. Com cada projecto cresces profissionalmente, aprendes técnicas novas, aprendes com pessoas que têm uma experiência de vida incrivelmente distinta da tua, o que fornece maior criatividade e uma visão mais alargada do mundo em que vives.

Como é a tua vida agora?

Todos os dias me levanto sabendo que vou criar algo novo, uma história nova com pessoas que querem aprender tanto como eu, que são incansáveis em produzir algo inovador e com uma qualidade excelente. Pessoas que não têm medo de comprometer-se no seu trabalho pois sabem que o produto final irá ter impacto devido ao seu longo, árduo, processo criativo.

Tencionas voltar?
Não.

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